top of page
  • Foto do escritorDra Karolina Frauzino

Quem teve trombose pode tomar a vacina Astrazeneca / Oxford?

Atualizado: 29 de abr. de 2021




Muitos pacientes estão me procurando no consultório para se orientarem sobre a vacina Oxford, que está sendo utilizada aqui em Brasília. Muitos são mulheres que já tiveram trombose e algumas ainda que estão em uso de anticoagulante e querem saber se estão autorizadas a se vacinarem.

Então vamos lá conversar sobre isso?


Contextualizando...


No final de fevereiro, foram relatados na mídia casos de trombose na Europa envolvendo pessoas vacinadas com a vacina de Oxford, que é uma das duas vacinas que a gente tem aqui no Brasil.


Foram feitas 222 notificações, de 34 milhões de vacinados, ou seja, 1 caso a cada 250.000 vacinados, enquanto a ocorrência esperada para trombose na população em geral é cerca de 60 casos a cada 100.000 habitantes. Ou seja, evento muito mais raro.


O que chamou a atenção foi que a trombose estava acontecendo em locais incomuns, como em vasos sanguíneos do cérebro e vasos sanguíneos do intestino, enquanto o esperado é que 90% dos casos aconteça em veias das pernas.


Após várias investigações, profissionais detectaram em muitas dessas pessoas níveis muito baixos de plaquetas no sangue, o que não acontece na trombose comum. Na trombose que eu falo aqui nos meus vídeos. Eu não cito plaqueta em nenhum deles.


Posteriormente, detectaram também a presença de anticorpos contra as plaquetas no sangue dessas pessoas, abrindo a possibilidade de essa trombose ser devida a uma reação imunológica, o que novamente é diferente da trombose comum.


Essa associação "anticorpos atacando plaquetas, níveis baixos de plaquetas e trombose" se parece em muito com uma reação muito rara que pode acontecer com o uso de heparina, que é um medicamento para tratar a trombose. Por algum fator desconhecido, algumas pessoas produzem anticorpos contra as próprias plaquetas que, desordenadamente, se agregam formando coágulos dentro do vaso sanguíneo.


No caso da vacina, são necessários mais estudos para determinar a causalidade. A gente não sabe, por exemplo, o que poderia estar desencadeando essa reação autoimune. Pode ser causado por algum componente da vacina, ou mesmo por algum fator genético ou ambiental não relacionada à vacina. Ou seja a pessoa tem uma desordem do sistema imunológico, como acontece em várias doenças autoimunes.


Mas claro, gente. Não vou isentar a vacina, até porque sabemos que nenhum medicamento é isento de riscos. Mesmo as vacinas que tomamos no calendário vacinal têm efeitos adversos e contraindicações.

Por que elas ainda estão no calendário vacinal, então? Por uma questão de pesar o Risco e Benefício.


Para a vacina de Oxford, se pensarmos no risco de trombose, os dados Europeus apontam para 0,0004%, enquanto o risco de trombose por COVID nos pacientes internados chega a 16,5%.


Se formos comparar esse risco com outras situações comuns:

Risco de trombose com tabagismo é de 0,18%

Risco de trombose com a pílula anticoncepcional 0,05-0,12%

Ambos são considerados baixo risco.


Outra informação

A incidência de alergia à vacina de COVID foi de 1 a cada 100.000 vacinados.


Trazendo pro Brasil, aqui foi relatado 1 caso de trombose associado a plaqueta baixa, após milhões de doses da Oxford.



- Mas afinal de contas, e quanto a mim? Tenho ou não tenho risco? Posso ou não posso tomar?

Devido à raridade, ainda não foram identificados fatores de risco relacionados à trombose, pois não identificaram fatores comuns às pessoas que tiveram o evento (se aconteceu mais quem já teve trombose, ou quem fuma ou quem toma anticoncepcional, etc).


A informação que temos é de que a trombose aconteceu em sua maioria em mulheres 20 a 69 anos, de 5 a 20 dias após tomar a 1a dose da vacina.

Nenhum caso foi relatado após a segunda dose da vacina.

No Reino Unido foram identificados 28 homens com essa complicação.

No Reino Unido, a trombose foi mais grave em mulheres de 20-29 anos.


Dessa forma, as orientações oficiais são as seguintes:


A orientação da ANVISA é de continuar a vacinação da AstraZeneca para todos os brasileiros e brasileiras sem restrição.


A orientação da Agência Regulatória Europeia e do Sistema de Saúde do Reino Unido, e que eu sigo, é que todos que tomarem essa vacina devem observar os possíveis sintomas de trombose até duas semanas após a primeira dose e procurem atendimento médico se tiverem:

  • Falta de ar

  • Dor no peito

  • Inchaço na perna

  • Dor abdominal persistente

  • Dor de cabeça persistente, ou acompanhada por visão turva, náuseas e vômito, dificuldade com a sua falta, fraqueza ou sonolência

  • Visão borrada

  • Pequenas manchas avermelhadas na pele, próximas do local onde foi aplicada a dose, que são sinais de plaqueta baixa


Caso isso venha a acontecer com você e você seja diagnosticada essa reação autoimune, o tratamento vai ser feito prontamente com uma medicação chamada imunoglobulina, que traduzindo é um anticorpo contra o anticorpo, que a gente tem aqui no Brasil e já usa há muito tempo para tratar as reações envolvendo a heparina e com tipos específicos de anticoagulantes.

Ok?


Referências para profissionais de saúde:

  1. Thrombosis and Thrombocytopenia after ChAdOx1 nCoV-19 Vaccination. NEJM. April 9, 2021. DOI: 10.1056/NEJMoa2104882

  2. Thrombosis after covid-19 vaccination, BMJ 2021;373:n958. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.n958

 

Dra Karolina Frauzino é cirurgiã vascular em Brasília-DF com foco de atuação em doenças venoas. Possui Título de Especialista em Cirurgia Vascular pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular

bottom of page